46% dos casos de assédio na área da saúde são atribuídos a médicos, aponta estudo
De acordo com a pesquisa, 46% das vítimas sofreram assédio de superiores hierárquicos
37% dos profissionais relataram mudanças na rotina para evitar assédio
O levantamento também revelou que um considerável número de profissionais adotou modificações em suas rotinas laborais como estratégia para evitar o contato com os agressores.
De acordo com a pesquisa, 37% dos entrevistados alteraram suas agendas e evitaram, sempre que possível, trabalhar com determinados colegas devido ao medo ou desconforto. Um adicional de 22% mencionou dificuldades em manter a concentração, enquanto 14% admitiram ter cogitado a possibilidade de pedir demissão. Por outro lado, 34% afirmaram que o assédio não provocou alterações significativas em seu comportamento profissional.
A pesquisa também indicou que, além das mudanças nas rotinas, a grande maioria das vítimas optou por não denunciar os agressores, principalmente por receio de represálias no ambiente de trabalho.
Leoleli Schwartz, editora sênior do Medscape em português, destacou: “78% dos participantes do questionário on-line não formalizaram denúncia contra o perpetrador, sendo que 54% justificaram a decisão com a crença de que nenhuma ação seria tomada em resposta.”
Apesar dos alarmantes resultados do estudo, aproximadamente 46% dos entrevistados acreditam que o assédio sexual passou a ser tratado com maior seriedade nos ambientes profissionais. Além disso, 70% apontaram que a cobertura midiática sobre o tema, incluindo casos de condutas inadequadas em outros setores como o esporte, o cinema e a política, tem contribuído para intensificar a conscientização e fomentar discussões abertas no âmbito da medicina.
Até o momento da publicação desta matéria, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não havia se pronunciado sobre o tema.
Quais comportamentos constituem assédio, abuso ou má conduta sexual?
De acordo com o Medscape, diversos comportamentos são identificados como constituintes de assédio, abuso ou má conduta sexual, sendo estes:
- Mensagens de texto e/ou e-mails não solicitados;
- Comentários sobre partes do corpo ou características físicas;
- Propostas de natureza sexual;
- Convites insistentes para encontros;
- Oferta de promoção ou vantagens profissionais em troca de favores sexuais;
- Ameaças de sanções em caso de recusa a ceder favores sexuais;
- Invasão deliberada do espaço pessoal ou da intimidade;
- Toques, abraços ou qualquer contato físico indesejado;
- Carícias explícitas;
- Agressões físicas como ser agarrado(a);
- Estupro.
Entre os comportamentos vivenciados pessoalmente no ambiente de trabalho, 51% dos respondentes relataram a invasão deliberada do espaço pessoal ou a aproximação excessiva. Em seguida, 47% afirmaram ter sido vítimas de toques, abraços, carícias ou contato físico indesejado, enquanto 44% relataram comentários de teor sexual sobre partes do corpo ou características físicas, além de olhares maliciosos ou sexualizados direcionados a partes íntimas.
O levantamento ainda indicou que o centro cirúrgico foi o local mais frequentemente associado a ocorrências de assédio, com 22% das respostas, seguido pela unidade de atendimento ao paciente (também com 22%). A sala dos médicos e os corredores apareceram empatados com 20%, enquanto a área administrativa não acessível aos pacientes foi mencionada por 19% dos entrevistados.