HPV em Homens Pode Potencializar a Mortalidade dos Espermatozoides, Revela Pesquisa
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HPV em Homens Pode Potencializar a Mortalidade dos Espermatozoides, Revela Pesquisa

Cientistas têm questionado há muito tempo se as infecções pelo papilomavírus humano (HPV) em homens poderiam influenciar negativamente a saúde dos espermatozoides e a fertilidade. Um estudo preliminar, publicado na sexta-feira (23), sugere uma possível correlação entre infecções por HPV de alto risco e um aumento modesto na taxa de mortalidade dos espermatozoides.

 

Infecções causadas por cepas de HPV de alto risco demonstram estar associadas a “níveis significativamente mais elevados” de espermatozoides mortos em comparação com infecções por cepas de baixo risco, conforme revelado pelo estudo. A pesquisa foi publicada no periódico científico Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.

 

As elevadas taxas de mortalidade dos espermatozoides podem ser parcialmente atribuídas ao aumento do estresse oxidativo nos espermatozoides, resultando em danos ao DNA ou comprometimento de suas funções.

“Estudos anteriores indicaram que infecções por HPV podem afetar a funcionalidade dos espermatozoides. No entanto, poucos investigaram as diferenças nos impactos causados pelos genótipos de HPV de baixo e alto risco”, afirma Virginia Rivero, professora na Universidad Nacional de Córdoba, Argentina, e autora sênior do novo estudo, em um comunicado por e-mail.

 

O HPV é um grupo composto por mais de 150 vírus, transmitidos principalmente por contato sexual, e estima-se que aproximadamente 80% da população dos Estados Unidos contrairá uma infecção por HPV ao longo da vida

 

Na maioria dos casos, o papilomavírus humano (HPV) tende a desaparecer espontaneamente em até dois anos; contudo, em situações onde as infecções persistem, podem surgir complicações de saúde. Cepas de baixo risco geralmente resultam em verrugas, enquanto cepas de alto risco estão associadas a um aumento no risco de certos tipos de câncer, como os de colo do útero, anal, peniano e orofaríngeo.

 

Rivero e sua equipe analisaram dados de 205 homens adultos que forneceram amostras de sêmen em uma clínica de urologia na Argentina entre 2018 e 2021. Nenhum dos participantes havia sido imunizado contra o HPV.

 

Os pesquisadores identificaram a presença de HPV em 39 (19%) das amostras, sendo que as infecções de alto risco foram mais prevalentes. A cepa de alto risco HPV 16 foi a mais comumente detectada, aparecendo em 16 amostras.

Os cientistas categorizaram as amostras em três grupos: sem HPV ou outras 11 infecções urológicas detectadas, HPV de alto risco detectado e HPV de baixo risco detectado. Em seguida, investigaram detalhadamente a qualidade dos espermatozoides em cada grupo, realizando análises de sêmen em duplicidade para cada amostra.

 

A análise revelou que não houve correlação entre a infecção por HPV e a redução nos parâmetros padrão utilizados para avaliar a qualidade do sêmen, como concentração e motilidade dos espermatozoides, que se refere à capacidade de movimento dos espermatozoides. Contudo, as amostras de homens com infecções por HPV de alto risco exibiram uma mortalidade de espermatozoides 2,5 vezes superior em comparação às amostras com infecções de baixo risco, conforme reportado por Rivero.

 

Os pesquisadores identificaram que as amostras com infecções por HPV de alto risco exibiram níveis elevados de marcadores de estresse celular, em comparação com aquelas infectadas por cepas de baixo risco e as que não apresentaram o vírus. Além disso, essas amostras também mostraram uma redução na quantidade de leucócitos, elementos cruciais do sistema imunológico.

“Cepas de HPV de alto risco exercem um impacto mais severo sobre os espermatozoides e criam um ambiente local imunossupressor, o que pode favorecer a presença de co-infecções”, afirma Rivero, sugerindo que o teste de HPV em homens poderia ser benéfico.

 

Enquanto a maioria das mulheres é regularmente testada para HPV durante exames de papanicolau para o rastreamento do câncer do colo do útero, nos Estados Unidos, os testes de HPV não são recomendados para homens, e não há métodos de rastreamento aprovados pela FDA para a população masculina.

 

“Na prática clínica, é incomum que urologistas solicitem testes de HPV em homens, e ainda mais raro que peçam testes de genótipo para determinar o risco da cepa”, explica Rivero. “Entretanto, nossas descobertas indicam que seria extremamente vantajoso identificar se a cepa de HPV é de alto risco.”

 

Estudo Reforça Conhecimento sobre HPV em Homens, Mas Não Motiva Preocupação Excessiva

O estudo, embora relevante para a compreensão das implicações do HPV em homens, não deve ser motivo de alarme para casais que desejam conceber, segundo Bobby Najari, urologista do NYU Langone Health em Nova York, que não esteve envolvido na pesquisa.

 

Por exemplo, em casais heterossexuais, se a parceira for diagnosticada com HPV de alto risco, é provável que o parceiro masculino também seja portador do vírus. No entanto, Najari enfatiza que essa informação não deve causar pânico.

“Houve um aumento significativo na quantidade de espermatozoides moribundos em homens com HPV de alto risco, mas, de maneira geral, o número de espermatozoides necróticos foi relativamente baixo em todos os grupos, inclusive naqueles infectados com HPV de alto risco”, afirma o especialista.

 

“Ademais, é improvável que esses espermatozoides comprometidos sejam os responsáveis pela fertilização, seja em concepções naturais ou em tecnologias de reprodução assistida. Espermatozoides em processo de degeneração não são aqueles que nadam vigorosamente em direção ao óvulo. No laboratório, esses espermatozoides não são escolhidos para fertilizar um óvulo, já que selecionamos apenas os mais saudáveis e ativos”, conclui Najari.

 

“Se há algo a ser destacado, é reconfortante que os principais indicadores do potencial reprodutivo masculino — contagem e motilidade dos espermatozoides — permaneçam inalterados entre homens com infecções por HPV de alto risco e outros homens”, afirma Najari.

 

“O cenário mais pertinente para este estudo é o de um homem com produção de espermatozoides já comprometida. O estudo levanta a preocupação de que uma infecção por HPV de alto risco possa agravar uma condição já severa. Infelizmente, atualmente não existem métodos clínicos para diagnosticar infecções por HPV em homens além dos sinais visíveis de verrugas ou câncer peniano”, adiciona.

 

O estudo parece suscitar mais questões do que respostas, sugerindo que uma investigação mais extensa sobre HPV em homens poderia esclarecer se infecções de alto risco impactam a fertilidade e os desfechos de gravidez — e até que ponto, analisa Janet Choi, endocrinologista reprodutiva e obstetra-ginecologista, que é diretora médica da Progyny, empresa de benefícios de fertilidade e saúde das mulheres.

“Embora anomalias gerais no sêmen não tenham sido associadas ao HPV, observou-se que homens com HPV de alto risco apresentaram maior mortalidade espermática. Espermatozoides mortos podem indicar aumento na fragmentação do DNA, fator associado à infertilidade e abortos espontâneos em estudos anteriores”, explica Choi, que não participou da pesquisa, em um e-mail.

 

“Um estudo de acompanhamento produtivo compararia homens com infertilidade e sêmen anômalo com aqueles com sêmen normal e parceiros com infertilidade não relacionada aos homens”, sugere. “Investigar a prevalência de HPV nesses grupos distintos ajudaria a elucidar a relação, já que pesquisas anteriores indicam uma prevalência detectável de HPV em homens com infertilidade e sêmen anômalo, sugerindo uma possível associação ou até mesmo um vínculo entre eles.”

 

Algumas pesquisas indicaram que o HPV pode comprometer os componentes celulares do sêmen, afetando negativamente a contagem, motilidade, integridade, morfologia e concentração dos espermatozoides, resultando em possíveis problemas de fertilidade. No entanto, outros estudos não encontraram diferenças estatisticamente significativas na concentração de espermatozoides entre amostras positivas e negativas para HPV, nem evidenciaram um papel relevante da infecção por HPV na infertilidade masculina.

 

De acordo com Ashley Lipps, especialista em doenças infecciosas do The Ohio State University Wexner Medical Center, a relevância clínica do estudo recente e suas implicações para a fertilidade masculina permanecem incertas. Lipps, que não participou da pesquisa, aponta que o estudo não avaliou se as diferenças observadas resultam em uma redução significativa na fertilidade.

“A principal limitação do estudo é seu tamanho amostral reduzido – das 205 amostras analisadas, o HPV foi detectado em apenas 39”, observa Lipps em um e-mail.

 

“Embora o estudo seja interessante, os dados são preliminares e estudos adicionais com amostras maiores são necessários para avaliar com precisão o impacto do HPV na fertilidade masculina”, conclui. “Se houver preocupações com a fertilidade, é aconselhável consultar um profissional de saúde. Vale ressaltar que o HPV é prevenível por meio de vacinação.”

 

Estratégias para Mitigar o Risco de Infecção por HPV

Embora não exista tratamento específico para o HPV, a vacinação representa uma ferramenta crucial na prevenção de infecções.

 

“A infecção por HPV de alto risco pode ser totalmente evitada através da vacinação. Portanto, para maximizar as chances de garantir netos saudáveis, os pais devem assegurar que seus filhos recebam a vacinação completa contra o HPV na idade apropriada”, afirma Najari.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomenda a administração de duas doses da vacina contra o HPV para meninos e meninas entre 11 e 12 anos. A primeira dose é administrada nessa faixa etária, seguida por uma segunda dose entre seis e 12 meses depois. Para adolescentes que iniciam a vacinação a partir dos 15 anos, são necessárias três doses ao longo de seis meses. A vacina não é indicada para pessoas acima de 26 anos.

 

De acordo com um relatório recente do CDC, a taxa de vacinação contra o HPV entre adolescentes nos EUA não aumentou desde a pandemia de Covid-19. Observou-se uma diminuição na porcentagem de crianças que completaram a vacinação aos 13 anos, comparando-se as nascidas em 2010 com as nascidas em 2007.

Entre 2015 e 2023, aproximadamente 52,9% dos adolescentes nascidos em 2007 estavam com a vacinação contra o HPV completa aos 13 anos, em contraste com 45,8% dos nascidos em 2010, conforme revela o relatório.

 

Este dado sugere que a taxa de cobertura entre os nascidos em 2010 foi equivalente aos níveis anteriores à pandemia, porém 7,1 pontos percentuais abaixo da cobertura observada na geração nascida em 2007.

 

“É imperativo que a vacinação contra o HPV seja amplamente adotada para a prevenção de cânceres associados ao vírus”, destacaram os pesquisadores do CDC. “Embora a vacinação tenha retornado aos índices pré-pandemia, esforços adicionais são necessários para elevar a taxa de cobertura.”

 

Além da vacinação, outras medidas preventivas contra o HPV incluem o uso de preservativos durante relações sexuais e a realização de exames de papanicolau para detecção do vírus em mulheres.

 

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