Compreenda as Razões do Enxugamento dos Rios Brasileiros
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Compreenda as Razões do Enxugamento dos Rios Brasileiros

Uma pesquisa conduzida pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), publicada na renomada revista Water, ilustra, por meio de imagens satelitais, o progressivo esgotamento dos principais rios do Brasil.

O relatório indica que 55% do território nacional está impactado pela seca mais extensa já registrada, abrangendo 4,6 milhões de km².

De acordo com o estudo, as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Amazônia experimentam as maiores reduções na vazão de rios, lagos e reservatórios, com pelo menos 12 grandes rios sendo severamente afetados pela crise hídrica.

 

Sobre o Estudo

Conforme evidenciado pela pesquisa, o aumento das temperaturas é identificado como a principal causa da seca que afeta os rios brasileiros. O fluxo do Rio São Francisco, por exemplo, foi severamente comprometido por ondas de calor sucessivas ocorridas ao longo deste ano.

Um dado alarmante é que o aumento da temperatura superou a redução das precipitações, evidenciando como as ondas de calor extremo foram decisivas para a diminuição da vazão dos rios, especialmente no início do período seco.

A análise dos dados hidrológicos revela que a redução da vazão dos rios é atribuível a um declínio nas precipitações e ao aumento concomitante das temperaturas atmosféricas nos últimos 30 anos.

 

A Situação dos Rios no Brasil

A escassez de chuvas aliada às elevadas temperaturas tem resultando em níveis fluviais drasticamente inferiores à média esperada para esta época do ano no Brasil.

Elisangela Broedel, pesquisadora da área hidrológica do Cemaden, informa que, embora a intensificação da seca tenha ocorrido entre maio e agosto de 2024, o monitoramento de secas realizado pelo Cemaden/MCTI indica que a crise hídrica, que afeta uma faixa desde o Acre e Amazonas até São Paulo e o Triângulo Mineiro, começou no segundo semestre de 2023.

“Consequentemente, muitos municípios enfrentam condições de seca contínuas há 12 meses, o que contribui para a diminuição dos níveis e vazões dos rios, além de elevar o risco de propagação de incêndios,” explica Broedel.

Rio Mandeira, em Rondônia, enfrenta seca severa em setembro de 2024 • Governo de Rondônia

 

Quais São os Rios em Pior Situação no País?

Segundo o Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI), empregado pelo Cemaden para caracterizar secas hidrológicas nacionalmente, as bacias hidrográficas atualmente em estado mais crítico são as dos rios Paraguai (incluindo o Pantanal), Paraná e seus tributários, Amazonas e seus afluentes, Tocantins, Araguaia, Jequitinhonha, Paraíba do Sul e São Francisco (principalmente nas cabeceiras).

A seca resulta de uma combinação de fatores em diferentes escalas espaciais e temporais.

“A estação chuvosa passada foi deficitária na região centro-norte do país devido ao fenômeno El Niño, que geralmente reduz as precipitações nessa área,” esclarece Broedel.

Como resultado, a deficiência na estação chuvosa não foi suficiente para reabastecer a umidade do solo e da vegetação, nem para recarregar os aquíferos, mantendo os níveis dos rios abaixo do esperado.

 

Expectativas Futuras

Conforme as previsões fundamentadas no Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI), projeta-se um agravamento das secas em diversas regiões do país.

Este índice, que integra dados de precipitação e vazão, sugere uma intensificação das condições de seca, destacando o impacto substancial sobre os recursos hídricos locais.

Imagens feitas em Corumbá, no Mato Grosso do Sul; Rio Paraguai atinge menor nível dos últimos 3 anos • Cedidas/Emmanuel Cavasana

 

As previsões indicam que, já em setembro, as secas deverão se intensificar, especialmente nas bacias dos rios Jequitinhonha, Tocantins, Paraná, Paraíba do Sul, no Sistema Cantareira na Grande São Paulo, e também nos rios do Sul do Brasil, como o Rio Jacuí (no Rio Grande do Sul), o Rio Iguaçu (entre Paraná e Santa Catarina) e o Rio Uruguai (entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

“A tendência é que eventos extremos relacionados tanto ao excesso quanto à escassez de água se tornem mais frequentes devido à variabilidade e mudanças climáticas,” alerta Broedel.

Este fenômeno pode intensificar a frequência e severidade das secas, além de aumentar a intensidade e frequência de eventos extremos como tempestades e inundações.

“Ademais, mudanças no uso do solo, como queimadas e desmatamento, alteram o ciclo hidrológico ao impactar a cobertura vegetal e a capacidade do solo de reter água,” explica.

A pesquisadora conclui que essas práticas modificam a evapotranspiração, afetando a formação de nuvens e o regime de precipitações, resultando em um ciclo hidrológico mais instável e imprevisível. Isso amplifica os riscos associados à gestão de recursos hídricos e à resiliência dos ecossistemas e das comunidades.

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