Todo ano, são “bilhões” de bolinhas de golfe que se perdem. Mas, onde elas vão parar?
Imagine o Tiger Woods, com aquele olhar de frustração, vendo sua bola desaparecer no Oceano Pacífico. É só uma nota de rodapé em uma das maiores performances da história do esporte!
A vitória de Woods no US Open de 2000, em Pebble Beach, com 15 tacadas, é um espetáculo que talvez nunca se repita.
Mas, adivinha? Ele perdeu uma bola! Sua tacada curva no 18º buraco foi parar a 12 metros, se juntando a um mar de bolinhas brancas, rosas e amarelas no fundo de Stillwater Cove.
Se o número 1 do mundo, que venceu 82 torneios do PGA Tour, perdeu uma bolinha no auge de seu poder quase divino, imagina quantas as milhões de golfistas comuns perdem anualmente?
A resposta? Muitas!
Mais campos de golfe do que McDonald’s!
Em 2023, um recorde de 45 milhões de pessoas deram swing no golfe nos EUA, segundo a USGA. E não para por aí: outros 31,6 milhões de golfistas, registrados e não, estavam jogando em 146 países!
Em 2019, os EUA tinham 43% dos campos de golfe do planeta, com 16.752 no total. Isso significa que há mais campos do que Starbucks ou McDonald’s por aí! E a previsão para 2023? Um recorde de 531 milhões de rodadas jogadas, segundo a NGF!
Agora, qualquer amador que já pegou um taco sabe que as chances de terminar a rodada com a mesma bolinha são bem baixas.
Vários fatores influenciam isso — especialmente a habilidade e a dificuldade do campo —, mas as estimativas para a quantidade de bolinhas perdidas por jogador em uma rodada ficam entre uma e quatro.
Empresa recupera e revende bolas de golfe perdidas!
Shaun Shienfield, o CEO da Found Golf Balls, contou que sua empresa resgata e revende milhões de bolinhas perdidas todos os anos nos EUA e no Canadá, com uma média de três a quatro por rodada.
Se considerarmos a estimativa mais baixa de Shienfield, isso dá mais de 1,5 bilhão de bolas perdidas por ano nos EUA desde 2020. Imagina só: se essas bolinhas fossem colocadas em fila, elas daríam mais de uma volta e meia na circunferência da Terra!
E somando os golfistas do mundo todo, o número de bolinhas perdidas poderia ser ainda mais absurdo. Torben Kastrup Petersen, gerente da União Dinamarquesa de Golfe, que estuda o impacto ambiental dessas perdas, revelou: “Embora seja complicado ter estimativas globais exatas, o total pode facilmente superar de 3 a 5 bilhões de bolinhas de golfe perdidas anualmente.”
Da Groenlândia ao Havaí!
Com campos de golfe espalhados por 84% dos países do mundo, não há muitos lugares que não se tornaram o lar temporário de uma tacada errada!
As bolinhas já aterrissaram em todo tipo de ambiente, desde as geladas planícies da Groenlândia até as bordas vulcânicas do Havaí, passando pelas montanhas da África do Sul, a 1.370 metros de altitude, e as águas cheias de baleias nos fiordes noruegueses.
E adivinha? Não precisa de um campo de golfe para perder uma bolinha! Em 2009, cientistas americanos que estavam à caça do famoso monstro do Lago Ness com um submarino ficaram chocados ao descobrir, em vez disso, dezenas de milhares de bolinhas de golfe!
Acredita-se que moradores e turistas tenham transformado o lago escocês em um campo de treino alternativo por anos. As bolinhas, afundadas em lodo a cerca de 238 metros de profundidade no fundo escuro do lago, estão perdidas para sempre, sem chances de resgate a não ser com equipamentos caros e extensivos.
Perigos aquáticos!
Apaixonado por tudo que envolve o mar, o biólogo conservacionista Matthew Savoca estava no final do seu doutorado em ecologia na Universidade da Califórnia, Davis, quando, em 2017, recebeu uma consulta surpreendente — uma estudante do ensino médio!
Alex Weber, uma aluna do terceiro ano de Carmel, procurou Savoca, que já havia escrito vários artigos sobre o impacto da poluição plástica na vida marinha, em busca de conselhos sobre algo curioso que ela encontrou enquanto praticava mergulho livre no Santuário Nacional Marinho da Baía de Monterey, perto de Pebble Beach.
Com a curiosidade a mil, Savoca ficou estarecido quando Weber abriu a garagem dos pais e revelou um tesouro inusitado: barris transbordando de bolinhas de golfe!
Naquele começo de 2017, ela e seu amigo Jack Johnston já tinham coletado cerca de 10 mil bolinhas. E, ao longo de um ano e meio, a dupla recrutou amigos e familiares para retirar quase 30 mil a mais da costa e das águas rasas próximas aos campos costeiros de Pebble Beach, Cypress Point e Carmel River Mouth.
186 mil bolas em um único campo nos EUA!
Alguns funcionários do famoso campo de Pebble Beach se uniram ao esforço, lembra Savoca, adicionando cerca de 10 mil bolinhas ao total, que alcançou impressionantes 50.681 — ou, como Savoca descreve, “incríveis” 2,56 toneladas de lixo plástico, o equivalente ao peso de uma pequena caminhonete!
Os resultados dessa coleta foram compilados em um artigo revisado por pares, com a esperança de que servisse como um modelo para enfrentar esse problema em grande escala. Savoca estimou que só em Pebble Beach, cerca de 186 mil bolinhas — ou 9,42 toneladas de detritos — vão parar nas águas todo ano.
“Se queremos que esse problema seja mitigado ou até resolvido, precisamos de um modelo: onde está a poluição, quanta poluição existe, quais métodos de coleta funcionam e quais são as consequências de não coletarmos?”, afirmou Savoca.
“Está lá para sempre”
Essas consequências, alerta Savoca, podem ser devastadoras para as focas e lontras-marinhas da Califórnia, que Weber viu brincando entre as ondas de bolinhas de golfe, assim como para muitas outras espécies — incluindo nós, seres humanos.
As bolinhas de golfe modernas são feitas de um núcleo de borracha sintética (polibutadieno), coberto por uma camada de polímero sintético (elastômero de uretano).
Os fabricantes, explica Savoca, adicionam óxido de zinco, acrilato de zinco e peróxido de benzoíla aos núcleos para aumentar a flexibilidade e a durabilidade — substâncias que são “agudamente tóxicas” para a vida marinha.
O perigo está na desintegração das bolas
Quando estão inteirinhas, as bolinhas de golfe não causam grandes problemas. Mas, conforme vão se desintegrando no fundo do mar, os produtos químicos nelas contidos se juntam às micro partículas de plástico que se espalham pelos oceanos.
Essas partículas “vão ficando cada vez menores até que, eventualmente, entram na cadeia alimentar e chegam até nós”, alerta Savoca. “Uma vez que as bolinhas se transformam nesses fragmentos microscópicos, basicamente não tem mais como limpá-las — elas ficam lá para sempre”, completou.
“Mas você tem uma chance, enquanto os materiais ainda são grandes o suficiente para serem recuperados, de evitar um tipo de poluição que, no futuro, será impossível de manejar — décadas ou até séculos depois”, ressalta Savoca.
Campos de golfe costeiros são um sucesso!
Savoca estimou que cerca de 28 quilos de detritos irrecuperáveis foram perdidos no mar a partir das bolinhas que conseguiram resgatar perto de Pebble Beach. A popularidade dos campos de golfe à beira-mar ao redor do mundo significa que, globalmente, esse número é muito maior.
Mitchell Schols, fundador da Biodegradable Golf Balls, com sede no Canadá, fez uma estimativa “super conservadora” de que, na América do Norte, cerca de um milhão de bolinhas são perdidas nos oceanos a cada ano.
Ele também calculou que outras 100 mil bolinhas se perdem no mar anualmente em cada um dos cinco maiores mercados de golfe: Japão, Coreia do Sul, Inglaterra, Alemanha e Austrália.
Vale lembrar que os campos de golfe costeiros são muito menos numerosos do que os de interior, e as implicações de bilhões de bolinhas espalhadas pelo meio ambiente são quase impossíveis de quantificar para Savoca.
“Só nos EUA, estamos falando de dezenas de milhares de toneladas desse tipo de lixo todos os anos”, disse Savoca. “É realmente difícil entender a magnitude desse problema.”
Quanto tempo uma bola de golfe leva para se decompor?
As descobertas de Savoca se baseiam em testes realizados em 2009 pela União de Golfe da Dinamarca, que revelaram que as bolinhas de golfe liberam uma quantidade significativa de metais pesados ao se decompor, com níveis preocupantes de zinco encontrados no preenchimento de borracha sintética das bolas de núcleo sólido.
Os pesquisadores concluíram que leva entre 100 e 1.000 anos para uma bolinha de golfe se decompor naturalmente. O gerente de campo, Petersen, enfatiza a urgência de “soluções em toda a indústria”.
“Enfrentar esse desafio não é só sobre gerenciar o desperdício, mas também sobre minimizar impactos ecológicos mais amplos”, afirmou Petersen. “Os golfistas precisam se tornar mais conscientes do impacto ambiental das bolinhas perdidas”, completou.
Bolas biodegradáveis surgem como uma ótima opção!
Nos últimos anos, soluções promissoras têm aparecido. Aproveitando uma lacuna no mercado, Schols lançou a Biodegradable Golf Balls, oferecendo uma alternativa ecológica e “sem culpa” para os golfistas que jogam perto ou na água.
Essas bolinhas são feitas com um composto biodegradável ativado pela água, o que significa que se dissolvem em até quatro semanas após o contato com a água, liberando amido de milho não tóxico e álcool polivinílico (PVA), um polímero sintético solúvel em água que também se desintegra.
Se deixadas em terra, as bolinhas podem levar de um a dois anos para se decompor naturalmente, acrescentou Schols.
Impacto no jogo
O mercado-alvo da empresa inclui resorts costeiros, eventos e proprietários de barcos e navios de cruzeiro, mas não o golfista comum.
A ausência de um núcleo de borracha resulta em uma perda de cerca de 30% na distância em comparação com uma bola de golfe tradicional, explicou Schols. Isso torna essas bolinhas mais adequadas para situações como acertar alvos próximos ou fazer jogadas na água.
Uma história semelhante se desenrola com a Albus Golf, uma fabricante espanhola que criou a Ecobioball e a Ecocoralball, que se dissolvem ao entrar em contato com a água, liberando alimentos para peixes e corais em até 48 horas.
No entanto, sua vida útil de “uso único” e a queda no desempenho limitam bastante a adoção entre os jogadores regulares.
“É só uma questão de tempo”
Schols se surpreende que as grandes empresas ainda não tenham lançado uma bola biodegradável de alto desempenho para um uso mais sustentável. Ele está trabalhando em sua própria versão e acredita que as grandes marcas logo vão seguir essa tendência.
“É só uma questão de tempo até que essas gigantes do golfe entrem em cena e comecem a colocar a sustentabilidade em destaque para os consumidores”, afirmou Schols.
Limpando a bagunça
Enquanto isso, a solução mais eficaz pode ser a mais simples: um mantra de cinco palavras que Savoca acredita ser a chave para combater diversos tipos de poluição: “Apenas limpe sua própria bagunça”.
Muitos já estão nessa vibe. O modelo de negócios da Found Golf Balls prova que “perdido” não significa, necessariamente, “irrecuperável”. O CEO Shienfield estima que, nos EUA, cerca de 150 milhões de bolas são resgatadas do meio ambiente e recicladas por empresas como a dele a cada ano.
Segundo a definição da USGA e da R&A, uma bola é considerada “perdida” se não for encontrada em até três minutos após o início da busca pelo jogador ou caddie.
Um homem e um cachorro com uma missão
Esse intervalo considerável oferece uma excelente oportunidade para que muitas bolas sejam recuperadas posteriormente, seja pelo jogador, pelos funcionários do clube ou até mesmo por um bom samaritano. Um homem e seu fiel cão, por exemplo, arrecadaram mais de 6 mil bolas durante um impressionante esforço de cinco anos em Londres.
Uma indústria global dedicada à recuperação de bolas de golfe representa um alívio potencialmente significativo para o acúmulo desses objetos perdidos. Em 2015, um morador do Reino Unido revelou que poderia lucrar até £100 mil anualmente mergulhando para resgatar bolas de golfe dos lagos dos campos.
Um conjunto de 12 bolas Titleist Pro V1 de 2023, em condição quase nova (com apenas pequenas marcas ou arranhões superficiais), atualmente é revendido por US$ 23,99 no site da Found Golf Balls.
Além disso, alguns fabricantes estão se mobilizando para recuperar bolas. De acordo com o site da Titleist, sua subsidiária PG Golf já recuperou e revendeu mais de 39 mil toneladas de bolas usadas desde sua fundação em 1992, reciclando anualmente mais de 40 milhões de bolas em campos de golfe em 43 estados, reintegrando produtos de borracha, surlyn e uretano “de volta ao jogo”.
Diversos campos de golfe têm implementado sistemas internos eficazes para a recuperação de bolas. O TPC Sawgrass, por exemplo, recorre a mergulhadores profissionais para auxiliar na recuperação de aproximadamente 120 mil bolas que anualmente se precipitam nas águas em torno do icônico buraco 17, um par 3 em formato de ilha, localizado na Flórida.
Em 2017, Pebble Beach deu início a um programa sério de recuperação de bolas de golfe, conforme revelou um porta-voz do Pebble Beach Resorts. A equipe colabora regularmente com mergulhadores profissionais para recuperar bolas do mar, além de coletá-las nas áreas costeiras e nas praias. Para complementar esses esforços, existem regras que proíbem os golfistas de acertar intencionalmente bolas no oceano.
“Nossos esforços de coleta fazem parte de um programa abrangente para sermos grandes administradores ambientais em todo o resort, tanto dentro quanto fora do campo de golfe”, acrescentou o porta-voz.
“Apenas faça o seu melhor para limpar a bagunça”
“Pebble Beach Resorts se ergue em um dos cenários mais deslumbrantes, não apenas no âmbito do golfe, mas do planeta como um todo. Estamos comprometidos em preservar a beleza e a saúde do nosso ambiente natural para as gerações futuras.”
Esses esforços visam mitigar o crescente número de bolas perdidas, mas, conforme observa Savoca, a eficácia dessas ações depende da boa vontade de todos.
“Não estou aqui para argumentar que o golfe não deveria existir ou que as pessoas não deveriam desfrutar desse esporte,” ele afirmou, “mas o que realmente importa é que cada um faça o seu melhor para limpar a bagunça.”