Saúde lança guia sobre mudanças climáticas para profissionais da área
Documento traz protocolos de atuação e recomendações para lidar com as consequências do clima na saúde que afetam principalmente crianças, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades
OMinistério da Saúde lançou um guia de bolso sobre mudanças climáticas voltado para profissionais do setor. O material é uma adaptação de uma publicação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) com a linguagem e as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Confira o guia “Mudanças Climáticas Para Profissionais da Saúde”.
O objetivo do guia é facilitar o atendimento dos médicos, enfermeiros, Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e outros profissionais com acesso rápido às informações para que as orientações aos pacientes sejam feitas com mais segurança. As mudanças climáticas são uma realidade recente para a população e, para os profissionais, não é diferente. Nesse sentido, o documento é fundamental para uma pronta resposta às necessidades dos brasileiros.
Segundo a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DVSAT), Agnes Soares, as ondas de calor, inundações e secas extremas trazem uma preocupação adicional tanto para quem organiza os serviços, como para os que prestam assistência às pessoas. “Seja numa Unidade Básica de Saúde (UBS) ou na atenção especializada, é preciso realizar algumas mudanças para manter a qualidade do atendimento, como uma adequação da medicação, por exemplo. A vantagem desse instrumento é ter essas informações nas mãos”, explicou a diretora.
É a primeira vez que o Ministério da Saúde publica um material específico para os profissionais com relação às mudanças climáticas e os efeitos em saúde. O guia será entregue aos trabalhadores do SUS e está disponível no portal da pasta.
“O que queremos com o documento é proporcionar uma rápida e fácil adaptação a essa nova realidade. As mudanças climáticas afetam e vão continuar afetando não só a saúde das pessoas, como também a estrutura dos serviços. Ter a capacidade de ajudar os profissionais do SUS a responderem melhor a essa situação é uma das metas da nossa gestão”, completou Agnes.
Com mais de 130 páginas, o guia de bolso tem informativos sobre alterações nos tratamentos cardiovasculares, respiratórios, renais, oftalmológicos, cutâneos, gastrointestinais e neurológicos, além de trazer recomendações sobre o impacto dos efeitos climáticos na saúde mental e materno-infantil. O material também aborda as zoonoses e doenças de transmissão vetorial e orientações para os pacientes e comunidades.
O lançamento do guia de bolso ocorre no momento em que diversas regiões do Brasil têm sofrido com as queimadas e a fumaça presente no ar. Devido à queima das florestas e áreas de pastagem, gases e materiais particulados nocivos à saúde são emitidos e espalhados pelo vento. Com as mudanças climáticas, crianças, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades sofrem mais com a inalação desse ar impuro, além de aumentar as chances da manifestação de doenças respiratórias, segundo o Ministério da Saúde.
A ocorrência de incêndios aumenta os atendimentos de urgência, internações hospitalares e limitações funcionais por problemas cardiorrespiratórios, como irritação nas vias aéreas, tosse e dificuldade para respirar. Em casos mais graves, o quadro pode evoluir para uma insuficiência respiratória. A exposição também pode gerar dores de cabeça; irritação e ardência nos olhos, nariz e garganta; rouquidão; lacrimejamento; cansaço; dermatites; e até ansiedade.
ATENDIMENTOS – Nas últimas semanas, ocorreram 3,7 milhões de atendimentos por problemas diretamente ligados às secas e queimadas nas Unidades Básicas de Saúde de todo o país. O monitoramento apontou que 31% do público atendido foi de crianças entre 0 e 11 anos, faixa etária com maior sensibilidade à piora da qualidade do ar por imaturidade do sistema respiratório e imunológico.
Entre a população idosa, os sinais de alarme podem ser sutis e se manifestar com o agravamento de doenças pré-existentes tais como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) ou com sintomas comportamentais como irritabilidade ou ansiedade.
CUIDADOS – Para evitar o desenvolvimento desses problemas, o público prioritário deve aumentar a ingestão de líquidos para manter a hidratação e reduzir, sempre que possível, a exposição à fumaça. Fazer lavagem das narinas com soro fisiológico 0.9% também é indicado. Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos devem manter o acompanhamento de saúde nas UBSs ou em serviços de referência, utilizando apenas medicamentos com prescrição de um profissional de saúde. Se houver alguma crise, é necessário procurar imediatamente um serviço de saúde.
INDÍGENAS – A população indígena é assistida pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) por meio da Atenção Primária à Saúde (APS). Os atendimentos são realizados em visitas domiciliares e nas Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSIs), com escuta qualificada, exame físico e orientações de medidas preventivas à exposição da fumaça proveniente das queimadas. As recomendações para cuidados e alertas aos sintomas são as mesmas para o público prioritário: crianças, pessoas idosas, gestantes e pessoas com comorbidades.
SUPORTE – O Ministério da Saúde acionou a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) para atuar, juntamente à Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde nos estados e municípios mais atingidos pelas fumaças dos incêndios e pela seca extrema. Além de monitorar a capacidade assistencial, serão elaborados planos de resposta em casos de emergência em saúde pública.