Os Lixões Promoverão Novas Pandemias? Estudo Revela Condições Propícias para tal Cenário
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Os Lixões Promoverão Novas Pandemias? Estudo Revela Condições Propícias para tal Cenário

Desde o advento da pandemia de covid-19, o espectro de novas crises sanitárias tem ganhado uma atenção crescente entre sanitaristas e especialistas no globo. Recentemente, uma revisão substancial evidenciou a intrínseca conexão entre os lixões e o surgimento de riscos pandêmicos, ao analisar mais de 345 estudos abrangentes sobre a fauna, como insetos, e as populações que habitam nas proximidades desses depósitos de resíduos.

Segundo os cientistas da Universidade James Cook, da Austrália, e da Universidade Mahidol, da Tailândia, a proliferação desordenada de lixões em países de menores índices econômicos resulta na aglomeração de seres humanos, resíduos e animais em espaços comuns, tornando-se, assim, um terreno fértil para o surgimento de doenças infecciosas e, potencialmente, de novas pandemias.

O professor Bruce Gummow, coautor da pesquisa e especialista em Medicina Veterinária Preventiva (Epidemiologia) da Universidade James Cook, em seu pronunciamento, elucidou com clareza que “a maioria dos surtos de doenças infecciosas emergentes tem suas origens no reino animal selvagem, envolvendo, com frequência, a interação entre patógenos, hospedeiros e o meio ambiente. Os lixões, nesse contexto, operam como uma interface crítica entre humanos, animais e o ambiente, sendo, portanto, focos potenciais para o surgimento de tais enfermidades.”

 

Condições dos Catadores de Lixo e do Descarte: Os Maiores Perigos à Saúde Pública

O estudo detalha uma série de fatores que tornam os lixões terrenos particularmente suscetíveis ao surgimento e à disseminação de doenças infecciosas:

  • A concentração excessiva de populações animais
  • A aglomeração de vetores de doenças, com destaque para os insetos
  • A presença persistente de cepas de bactérias resistentes a antimicrobianos
  • As precárias condições de vida das pessoas que frequentam esses locais

Os pesquisadores alertam que os animais que frequentam os lixões frequentemente apresentam uma alta prevalência de doenças infecciosas. Além disso, grande parte dos catadores de lixo vive em condições profundamente insalubres e anti-higiênicas, o que torna esses trabalhadores particularmente vulneráveis a diversas enfermidades. Estudos conduzidos em 69 países analisaram a realidade desses indivíduos, que, por sua vez, muitas vezes exercem suas atividades de maneira informal e carecem de acesso a cuidados médicos adequados.

O professor Bruce Gummow, em suas observações, ressalta que “esses trabalhadores estão, em muitos casos, alheios aos riscos de doenças que possam carregar, ou não têm os meios necessários para tratar de sua própria saúde, o que eleva consideravelmente o risco de propagação de doenças. Eles estão expostos, frequentemente, a uma variedade de patógenos zoonóticos, representando um risco tanto para si mesmos quanto para a sociedade em geral.”

Ademais, os lixões, ao oferecerem alimento constante para diversas espécies de animais ao longo de todo o ano, fomentam a coexistência de múltiplos grupos animais, o que eleva a taxa de contato entre eles e, consequentemente, a possibilidade de transmissão de patógenos. Essa interação constante entre fauna e humanos estabelece uma perigosa interface para o desenvolvimento de surtos infecciosos.

 

Políticas Públicas para o Descarte de Resíduos: Uma Urgente Necessidade para Mitigar Riscos Sanitários

Os cientistas alertam que, até 2050, as cidades ao redor do mundo deverão gerar mais de seis milhões de toneladas de resíduos sólidos diariamente. De acordo com o professor Bruce Gummow, “a elevada porcentagem de matéria orgânica presente nos resíduos de países de baixa renda, somada ao descarte descontrolado e à queima a céu aberto em lixões, exacerba ainda mais os riscos ambientais e sanitários.”

Dessa forma, torna-se imperativo repensar as estratégias de descarte de resíduos, priorizando métodos mais sustentáveis e, igualmente, buscando meios de reduzir a quantidade de resíduos produzidos. Gummow enfatiza que, “para mitigar o risco de novas pandemias, é imprescindível que se minimize, com urgência, a interação entre seres humanos, animais, vetores e patógenos nos lixões.” A redução dessa interface será determinante na diminuição da probabilidade de surtos que possam se propagar com a rapidez e o impacto de crises sanitárias globais.

Ademais, é fundamental ressaltar que o debate sobre o manejo de resíduos especiais, bem como as políticas voltadas à preservação do meio ambiente, permanece um ponto crucial de discussão. Este debate, longe de ser periférico, integra uma agenda global de sustentabilidade e saúde pública, que deve ser tratado com a seriedade e a urgência que a situação exige.

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