46% dos casos de assédio na área da saúde são atribuídos a médicos, aponta estudo
POLÍCIASAÚDE

46% dos casos de assédio na área da saúde são atribuídos a médicos, aponta estudo

De acordo com a pesquisa, 46% das vítimas sofreram assédio de superiores hierárquicos

 

Uma pesquisa inédita conduzida pela plataforma Medscape, especializada na disseminação de informações e ferramentas de apoio a profissionais da saúde, revelou dados alarmantes acerca da prevalência de assédio, abuso e má conduta sexual no setor da saúde no Brasil. O levantamento aponta que médicos são responsáveis por 46% das situações de assédio reportadas pelos participantes da pesquisa.

A investigação envolveu 885 profissionais de saúde, incluindo médicos, residentes, enfermeiros e estudantes de medicina que assinam a versão em português da plataforma Medscape, realizada entre 11 de junho e 7 de setembro de 2024. Deste total de respondentes, 57% eram do sexo masculino e 43%, feminino.

Os resultados indicaram que o assédio ocorre com maior frequência em contextos hierárquicos, com 46% das vítimas sendo assediadas por superiores, 37% por colegas de nível hierárquico similar e 17% por subordinados.

Um dos participantes do estudo relatou: “Estava no estágio de Pediatria, no setor de urgência, quando ocorreu o assédio. O preceptor médico me chamou para acompanhá-lo na evolução dos pacientes na enfermaria. No percurso, começou a fazer perguntas pessoais: se eu morava sozinho, onde morava e se tinha relacionamento. Ele insinuou, inclusive, que eu devia aprontar bastante por morar sozinho na cidade. Fiquei constrangido e tentei mudar de assunto.”

Adicionalmente, o estudo revelou que o assédio não se restringe ao âmbito profissional, mas também ocorre por parte dos pacientes. Aproximadamente 15% dos profissionais afirmaram ter enfrentado situações de sexualização explícita por parte dos pacientes, com convites para encontros, comentários indevidos e gestos inapropriados. Cerca de 8% mencionaram ter recebido abordagens diretas que ultrapassaram os limites éticos e profissionais.

 

37% dos profissionais relataram mudanças na rotina para evitar assédio

O levantamento também revelou que um considerável número de profissionais adotou modificações em suas rotinas laborais como estratégia para evitar o contato com os agressores.

De acordo com a pesquisa, 37% dos entrevistados alteraram suas agendas e evitaram, sempre que possível, trabalhar com determinados colegas devido ao medo ou desconforto. Um adicional de 22% mencionou dificuldades em manter a concentração, enquanto 14% admitiram ter cogitado a possibilidade de pedir demissão. Por outro lado, 34% afirmaram que o assédio não provocou alterações significativas em seu comportamento profissional.

A pesquisa também indicou que, além das mudanças nas rotinas, a grande maioria das vítimas optou por não denunciar os agressores, principalmente por receio de represálias no ambiente de trabalho.

Leoleli Schwartz, editora sênior do Medscape em português, destacou: “78% dos participantes do questionário on-line não formalizaram denúncia contra o perpetrador, sendo que 54% justificaram a decisão com a crença de que nenhuma ação seria tomada em resposta.”

Apesar dos alarmantes resultados do estudo, aproximadamente 46% dos entrevistados acreditam que o assédio sexual passou a ser tratado com maior seriedade nos ambientes profissionais. Além disso, 70% apontaram que a cobertura midiática sobre o tema, incluindo casos de condutas inadequadas em outros setores como o esporte, o cinema e a política, tem contribuído para intensificar a conscientização e fomentar discussões abertas no âmbito da medicina.

Até o momento da publicação desta matéria, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não havia se pronunciado sobre o tema.

 

Quais comportamentos constituem assédio, abuso ou má conduta sexual?

De acordo com o Medscape, diversos comportamentos são identificados como constituintes de assédio, abuso ou má conduta sexual, sendo estes:

  • Mensagens de texto e/ou e-mails não solicitados;
  • Comentários sobre partes do corpo ou características físicas;
  • Propostas de natureza sexual;
  • Convites insistentes para encontros;
  • Oferta de promoção ou vantagens profissionais em troca de favores sexuais;
  • Ameaças de sanções em caso de recusa a ceder favores sexuais;
  • Invasão deliberada do espaço pessoal ou da intimidade;
  • Toques, abraços ou qualquer contato físico indesejado;
  • Carícias explícitas;
  • Agressões físicas como ser agarrado(a);
  • Estupro.

 

Entre os comportamentos vivenciados pessoalmente no ambiente de trabalho, 51% dos respondentes relataram a invasão deliberada do espaço pessoal ou a aproximação excessiva. Em seguida, 47% afirmaram ter sido vítimas de toques, abraços, carícias ou contato físico indesejado, enquanto 44% relataram comentários de teor sexual sobre partes do corpo ou características físicas, além de olhares maliciosos ou sexualizados direcionados a partes íntimas.

O levantamento ainda indicou que o centro cirúrgico foi o local mais frequentemente associado a ocorrências de assédio, com 22% das respostas, seguido pela unidade de atendimento ao paciente (também com 22%). A sala dos médicos e os corredores apareceram empatados com 20%, enquanto a área administrativa não acessível aos pacientes foi mencionada por 19% dos entrevistados.

Qual Sua Reação?

Alegre
0
Feliz
0
Amando
0
Normal
0
Triste
0

You may also like

More in:POLÍCIA

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *