31% dos trabalhadores brasileiros negligenciam a saúde mental, aponta estudo
Pesquisa examina o comportamento dos brasileiros em relação ao bem-estar mental e identifica os principais fatores que influenciam a saúde psicológica no ambiente laboral
Atividade física, medicamentos e terapia se destacam como os principais métodos de cuidado com a saúde mental
O estudo revelou nuances geracionais significativas no modo como os indivíduos cuidam de sua saúde mental. Entre os integrantes da Geração Z (18 a 27 anos), 23% das mulheres relataram participar de sessões de terapia, enquanto o índice entre os homens foi de apenas 10%. Já na Geração X (44 a 59 anos), 29% das mulheres optam por práticas de exercícios físicos, em contraste com 49% dos homens, que também priorizam essa abordagem.
Entre os membros da geração “baby boomer” (60 a 78 anos), o uso de medicamentos figura como a principal estratégia: 28% das mulheres e 27% dos homens recorrem a essa alternativa.
Luis González, CEO da Vidalink, sublinha a importância de um tratamento integrado da saúde mental. “Embora a prática de atividades físicas tenha seu papel crucial, ela deve ser associada a acompanhamento psicológico e, sempre que necessário, ao uso de medicamentos. Além disso, intervalos dedicados a atividades terapêuticas que amenizem a pressão do cotidiano são indispensáveis”, enfatiza.
Efeitos deletérios da negligência com a saúde mental
A psicóloga Gisele Caleffi elucida que a ausência de cuidados com a saúde mental está intrinsecamente associada a fatores como sobrecarga laboral, agendas excessivamente preenchidas e restrições financeiras.
“A hiperprodutividade, a ausência de suporte e os receios ligados ao processo de autoconhecimento constituem desafios concretos. ‘Não fazer nada’ pode sinalizar tanto um prenúncio de adoecimento iminente quanto um sofrimento já instaurado, mas que muitos ainda têm dificuldade em reconhecer”, afirma.
Entre os elementos que potencializam o comprometimento da saúde mental dos trabalhadores, Caleffi destaca:
- Hipervalorização da produtividade: A exaltação da chamada “cultura do cansaço” desencoraja o descanso e amplifica os casos de burnout;
- Ausência de segurança psicológica: A inexistência de um ambiente propício para abordar questões como sobrecarga de trabalho e preconceito agrava o desgaste mental;
- Estigma e preconceito: Apesar de maior conscientização, a desinformação e os preconceitos persistentes em relação à saúde mental dificultam o acesso ao apoio adequado;
- Liderança e relações tóxicas: Líderes abusivos e dinâmicas interpessoais negativas exercem impactos diretos no bem-estar dos colaboradores;
- Dificuldades financeiras: A precariedade financeira continua sendo o maior entrave ao bem-estar. Por exemplo, segundo um estudo do Banco Mundial, os gastos com medicamentos correspondem, em média, a 46% das despesas totais de saúde dos brasileiros.
Além desses aspectos, a segurança psicológica desponta como um dos principais desafios para a promoção da saúde mental no ambiente corporativo, sobretudo entre grupos historicamente marginalizados.
Um levantamento realizado pela startup Lupa evidencia que 79% dos trabalhadores se sentem desmotivados por não se perceberem pertencentes ao ambiente de trabalho, enquanto 80% relatam ter sido vítimas ou testemunhas de discriminação, preconceito ou assédio. Ademais, mais da metade (54%) indicaram algum nível de deterioração em sua saúde mental após ingressar em empresas onde essas condições prevalecem.
Para González, as organizações deverão reavaliar suas abordagens em relação à saúde mental. “Embora o tema tenha ganhado maior visibilidade, ainda carece de um tratamento suficientemente aprofundado. As empresas precisam assegurar que seus colaboradores tenham acesso pleno aos benefícios necessários e fomentar ambientes de trabalho nos quais se sintam seguros para expor suas dificuldades”, afirma.