A Gordura Abdominal Pode Estar Associada ao Alzheimer, Afirma Estudo
Pesquisa recente aponta que o aumento da gordura visceral está relacionado à diminuição do centro de memória cerebral e ao surgimento de marcadores da doença já aos 40 anos
A Gordura Visceral: O Elemento Crucial
Uma pesquisa preliminar conduzida por Raji e sua equipe, publicada em novembro de 2023, revelou que um tipo específico de gordura abdominal profunda, conhecida como gordura visceral, está intimamente associada à inflamação e ao acúmulo de amiloide nos cérebros de 32 indivíduos, entre homens e mulheres, na faixa etária dos 40 e 50 anos. Até aquele momento, a presença de tau ainda não havia sido confirmada no estudo.
A gordura visceral, que envolve os órgãos vitais do corpo, distingue-se fundamentalmente da gordura subcutânea, presente em outras áreas do corpo. A gordura subcutânea compõe cerca de 90% do total de gordura corporal, conforme informações da Cleveland Clinic.
“A maior parte do índice de massa corporal (IMC) de um indivíduo reflete a gordura subcutânea, não a visceral”, afirma Raji. “Por isso, medimos a gordura visceral utilizando ressonância magnética abdominal, complementada por um software especializado que nos permite calcular com precisão o volume exato do tecido adiposo visceral.”
O estudo também empregou tomografia por emissão de pósitrons (PET) com amiloide, considerada a metodologia de referência para este tipo de exame, a fim de detectar a presença de amiloide e tau nos cérebros dos participantes. Além disso, utilizou ressonância magnética (RM) para mensurar os níveis de gordura visceral, os quais tendem a aumentar conforme a circunferência abdominal se expande.
“Quanto maior a quantidade de gordura visceral em um indivíduo, mais intensa é a inflamação no corpo, e, na realidade, essa inflamação é ainda mais prejudicial do que aquela associada à gordura subcutânea”, afirma Raji.
A gordura visceral, devido à sua localização próxima aos órgãos internos, recebe um fluxo sanguíneo mais abundante e apresenta uma maior atividade hormonal em comparação à gordura subcutânea, conforme explica Raji.
“Analisamos a resistência à insulina a partir dos níveis de insulina plasmática em jejum e por meio de testes de tolerância à glicose, e descobrimos que os níveis de insulina mais anormalmente elevados eram encontrados em pessoas com maiores quantidades de gordura visceral”, revela. “A gordura visceral é a forma de gordura metabolicamente mais disfuncional e um potente indutor de diabetes.”
Além disso, o estudo identificou uma correlação entre a gordura abdominal profunda e a atrofia cerebral, ou o desgaste da substância cinzenta, em uma área crítica para a memória do cérebro, o hipocampo. A atrofia cerebral é, por sua vez, um biomarcador adicional da doença de Alzheimer, conforme apontado por Raji.
Emaranhados de Tau Identificados Pela Primeira Vez
O estudo foi ampliado com a inclusão de 48 participantes adicionais, totalizando 80 indivíduos, com uma média de idade de 49 anos e um índice de massa corporal (IMC) médio de 32. Vale ressaltar que um IMC superior a 30 é considerado indicativo de obesidade pela medicina convencional. As atualizações mais recentes sobre as descobertas foram apresentadas em resumos durante a conferência da Sociedade de Radiologia da América do Norte de 2024, realizada na última segunda-feira (2), conforme relatado por Raji.
“O que de fato é inovador neste estudo é que pela primeira vez mostramos que maiores quantidades de gordura visceral, ou oculta, estão associadas a níveis anormalmente elevados de proteínas tau em indivíduos até 20 anos antes de qualquer manifestação dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer”, afirma Raji. “Anteriormente, havíamos identificado apenas uma correlação entre a gordura visceral e a amiloide.”
As tomografias por emissão de pósitrons (PET) revelaram que, à medida que os níveis de gordura visceral aumentavam, também aumentavam os níveis de amiloide e tau, de acordo com a nova pesquisa.
“Este estudo tem um impacto significativo e é clinicamente relevante para os 47 milhões de americanos, assim como para centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, que apresentam sinais iniciais de Alzheimer que começam a se desenvolver silenciosamente em seus cérebros, embora ainda não tenham apresentado sintomas”, afirma Isaacson.
Estratégias para Combater a Gordura Visceral
Existem abordagens eficazes e inteligentes para reduzir a gordura abdominal, as quais podem, inclusive, reverter os processos negativos mencionados, conforme afirmou Isaacson. Em primeiro lugar, a ênfase não deve recair unicamente sobre o peso corporal, mas sim sobre a composição corporal.
“Isso pode ser facilmente monitorado em casa por meio de uma balança biométrica, ou, alternativamente, acompanhado por uma varredura DEXA anual, realizada por um profissional de saúde. Esse exame também é frequentemente utilizado para avaliar a densidade óssea à medida que envelhecemos”, explica.
O exercício físico é um pilar fundamental, ressalta Isaacson, mas deve ser praticado de maneira mais inteligente, e não mais intensa.
“Para alcançar uma perda de gordura corporal de forma mais eficiente e entrar no modo de ‘queima de gordura’, sugiro realizar caminhadas rápidas, em ritmo constante, por períodos que variem entre 45 a 60 minutos, de duas a três vezes por semana”, aconselha.
Você deve adotar o que os especialistas denominam de “treinamento na Zona 2”, uma abordagem que pode ser monitorada por um método simples: ser capaz de manter uma conversa durante o exercício, mas apenas o suficiente para perceber que está desafiando seu corpo, conforme orienta Isaacson.
“Caminhar rapidamente em uma esteira com leve inclinação, ou utilizar um colete com pesos, são estratégias eficazes para atingir a zona de queima de gordura de forma mais rápida e eficiente”, afirma. “Além disso, o acompanhamento e o desenvolvimento da massa muscular são cruciais — quanto mais músculos uma pessoa tiver, maior será seu metabolismo e, consequentemente, sua capacidade de queimar gordura ao longo do dia.”
Se sua massa muscular for reduzida, recomenda-se a prática de treinamento de força por pelo menos 30 minutos, duas vezes por semana ou mais. Também é essencial garantir a ingestão adequada de proteínas ao longo do dia, complementa o neurologista.