A imprevisibilidade sustenta a percepção de pessimismo no mercado laboral, revela pesquisa
“O déficit público está em ascensão, e o mercado financeiro ainda se preocupa com a conjuntura futura, intensificada por um cenário internacional mais complexo, que amplifica as incertezas quanto à economia americana”, ressalta ele sobre um país que enfrenta desafios inflacionários e pode desacelerar seu crescimento para conter a alta dos preços.
Berto também observa que essa incerteza econômica resulta em uma limitação na capacidade de investimento.
Tal cenário, segundo ele, impede o avanço de projetos empresariais e restringe a expansão dos negócios, mesmo diante da demanda existente.
“A imprevisibilidade não implica necessariamente em um cenário negativo; trata-se apenas de incerteza. As empresas ainda não definiram claramente qual direção seguir”, pondera o gerente da Robert Half.
Mudanças no Mercado
Embora a pesquisa foque na mão de obra qualificada, composta por profissionais com mais de 25 anos e formação superior, é imperativo reconhecer a heterogeneidade do mercado de trabalho, conforme ressalta o economista Renan Pieri, professor da FGV EASP.
“O mercado evolui de forma desigual para diferentes segmentos. Por exemplo, nos setores de agricultura e construção civil, os salários caíram nos últimos 12 meses”, exemplifica.
“Mesmo que, em média, os salários tenham registrado aumento, em certos setores, a situação piorou.”
Outro fator que contribui para o pessimismo é o elevado número de pedidos de seguro-desemprego. Apesar da redução na taxa de desemprego, as demissões permanecem elevadas.
A pesquisa indica que, ao ser questionados sobre as projeções de demissões, 65% dos recrutadores avaliaram que as chances são baixas.
O percentual observado indica, segundo a análise do levantamento, um movimento de retenção, refletido em um incremento de cinco pontos percentuais em relação ao trimestre anterior.
Pieri propõe uma hipótese para entender as demissões, mesmo em um contexto econômico favorável: “Em períodos de baixa taxa de desemprego, a preocupação com a perda do emprego diminui. Isso pode levar a uma queda na produtividade, pois os trabalhadores acreditam que encontrarão rapidamente uma nova colocação”, observa.
A pesquisa também revela que, ao avaliar os próximos seis meses, 36% dos desempregados consideram que suas chances de conseguir um novo emprego são maiores.
Inteligência Artificial
A pesquisa revela um aumento do pessimismo nas expectativas para o mercado de trabalho nos próximos seis meses.
No terceiro trimestre do ano, a confiança dos profissionais caiu para 44,7 pontos.
Este número é inferior aos índices dos dois primeiros trimestres: em junho, a confiança era de 45,9 pontos e, em março, de 46,8.
Cristina Pinto de Mello, professora de economia da PUC-SP, aponta que um fator significativo para esse pessimismo é a substituição de trabalhadores qualificados por inteligência artificial (IA).
“Estamos imersos em um processo de transformação disruptiva dos empregos tradicionais. Há uma percepção crescente de ameaça quanto à segurança no trabalho, gerando incerteza sobre o futuro”, afirma a economista, que conduz uma pesquisa sobre bem-estar subjetivo no mercado de trabalho.
Por outro lado, Leonardo Berto observa que a inteligência artificial tem se revelado uma ferramenta crucial para elevar a produtividade e eficiência sem a necessidade de expandir o número de postos de trabalho.
“Esse pessimismo persiste, em grande parte, devido à indefinição sobre o orçamento de 2025 nas empresas e sobre os movimentos estratégicos futuros”, acrescenta Berto.
Busca por Soluções
Para o gerente da Robert Half, a principal estratégia para mitigar o pessimismo dos funcionários é a retenção de talentos.
“Focar na retenção significa priorizar o bem-estar dos colaboradores, avaliando programas de benefícios, estrutura de desenvolvimento organizacional e treinamento. Isso envolve também uma revisão do modelo de gestão”, explica.
Nesse mesmo sentido, o professor Renan Pieri sugere a revisão dos planos de incentivos e a análise do desempenho dos funcionários para alinhar esses fatores com as oportunidades de promoção.
A economista Cristina Mello enfatiza a necessidade de reavaliar a cultura admissional e redesenhar a estrutura social frente às mudanças tecnológicas no mercado de trabalho.
“Se estamos avançando na transformação dos métodos tradicionais de obtenção de renda, é crucial entender como substituí-los de maneira eficaz”, alerta Mello.