Abstinência de café: os efeitos da privação de cafeína no corpo
SAÚDE

Abstinência de café: os efeitos da privação de cafeína no corpo

O café ocupa lugar de destaque entre as bebidas preferidas dos brasileiros. Muitos não conseguem dar início ao dia sem uma dose, e outros o ingerem repetidamente em busca de vigor e ânimo. Contudo, a ingestão desmedida de cafeína pode resultar em danos ao organismo, como elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca.

Entretanto, a ausência da substância entre os habituados ao seu consumo também pode desencadear desconfortos. Para compreender se a “abstinência de café” de fato existe e os motivos que a provocam, é necessário primeiramente reconhecer que a cafeína, de fato, pode gerar dependência.

“Indivíduos mais sensíveis aos efeitos da cafeína, especialmente seus impactos cerebrais, como em casos de enxaqueca, experimentam um alívio momentâneo de dores quando a substância atinge o cérebro, mascarando desconfortos. Ao cessarem o consumo de café, tais pessoas podem apresentar intensificação das dores, aumento da sonolência e agravamento da ansiedade”, afirma Thaís Villa, neurologista doutora pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e fundadora do Headache Center Brasil.

A cafeína atua como um estimulante do sistema nervoso central, sendo, por isso, classificada como uma substância psicoativa. “Ela promove a liberação de dopamina, conhecida como o hormônio da felicidade, devido ao seu efeito estimulante. Quando se consome quantidades elevadas de café, o organismo é impulsionado a suprimir o cansaço”, explica Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

É crucial destacar que o “vício em café” não é uma condição reconhecida cientificamente. “Se uma pessoa interrompe o consumo de café e passa a apresentar irritabilidade, tremores, sudorese, ansiedade ou até um quadro depressivo, isso pode estar associado a uma certa dependência de cafeína, embora tal dependência ainda não seja considerada um vício. Todavia, é notório que, ao ultrapassar os limites recomendados de ingestão, o indivíduo poderá sentir sintomas adversos ao reduzir o consumo.”

Nesse contexto, a privação de café pode ocasionar sintomas como cefaleia, dores corporais, náuseas, tremores, irritabilidade, sonolência, dificuldades de concentração e redução no desempenho físico e mental, conforme apontam os especialistas.

 

Por que ocorre a abstinência de café?

A abstinência de café resulta, primariamente, dos efeitos da cafeína sobre o organismo. Conforme expõe Villa, ao cessar o consumo, o cérebro passa por alterações químicas nos neurotransmissores adenosina, responsável por suprimir a excitação e promover o sono, e dopamina, que regula a motivação e o bem-estar emocional.

“Ao consumir café, a cafeína se liga diretamente aos receptores de adenosina, elevando o estado de alerta, reduzindo a sonolência. Contudo, com o passar do tempo, a adenosina acumula-se no cérebro, e, sem a interferência da cafeína, esse neurotransmissor atua em plenitude, provocando extrema sonolência”, esclarece a neurologista.

As dores, por sua vez, relacionam-se ao efeito da dopamina no corpo, uma vez que a cafeína estimula sua produção, atuando como um analgésico. Ao diminuir o consumo da substância, dores de cabeça podem emergir em indivíduos propensos à enxaqueca.

Esses sintomas associados à privação de cafeína podem persistir de semanas a meses, segundo a especialista.

“A duração varia conforme a quantidade de cafeína anteriormente consumida e a sensibilidade individual a essa substância”, afirma Villa. “Os sintomas alcançam seu pico nos primeiros dias, seguidos por um gradual declínio nas semanas subsequentes, desde que o indivíduo não retorne ao consumo de cafeína, seja por meio do café, do cacau, de chás cafeinados ou de refrigerantes à base de cola”, complementa.

 

Vale a pena reduzir o consumo de café?

O consumo moderado de café pode proporcionar diversos benefícios à saúde, incluindo aprimoramento do desempenho mental, proteção contra doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, além de melhoria na função cognitiva e ação antioxidante, conforme ressalta Ribas Filho.

Entretanto, o consumo excessivo pode acarretar consequências adversas à saúde. “O excesso de cafeína pode provocar ansiedade, insônia, dependência, tremores musculares e taquicardia. Assim, é desaconselhável ultrapassar cinco xícaras de café diárias”, adverte o nutrólogo.

Nesse contexto, a redução da ingestão de cafeína pode ser benéfica. Segundo Villa, tal diminuição pode promover um sono de melhor qualidade, aliviar sintomas de enxaqueca decorrentes do efeito rebote da cafeína, reduzir a pressão arterial em hipertensos, diminuir níveis de ansiedade e melhorar a saúde gastrointestinal, especialmente em relação a dores estomacais, azia e má digestão.

Para que a redução do consumo de café ocorra de maneira saudável e minimize os efeitos da abstinência, é recomendável seguir algumas orientações. “A estratégia mais eficaz para aqueles que identificam uma dependência de café e cafeína é, evidentemente, reduzir a ingestão de forma gradual”, aconselha Ribas Filho. “Alternativas ao café incluem chá-mate, chá-preto, chá-verde, chimarrão e, naturalmente, bebidas energéticas, além de alimentos como chocolate”, complementa.

Entretanto, é imprescindível lembrar que o consumo dessas alternativas também deve ser moderado, a fim de evitar os mesmos efeitos adversos decorrentes do consumo excessivo de cafeína.

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