Carrefour Enfrentará Escassez de Carne? Compreenda a Controvérsia Relacionada ao Boicote dos Frigoríficos Brasileiros
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Carrefour Enfrentará Escassez de Carne? Compreenda a Controvérsia Relacionada ao Boicote dos Frigoríficos Brasileiros

Em comunicado, o conglomerado francês reconhece que a interrupção do fornecimento de carne para suas unidades no Brasil prejudica os consumidores, mas refuta a alegação de desabastecimento

 

Na última quarta-feira, 20 de novembro, a declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, proferida na França, suscitou acirrada controvérsia ao questionar a qualidade da carne proveniente da América Latina, anunciando que as filiais da gigante varejista francesa em território europeu deixariam de comercializar o referido produto agropecuário. Tal posicionamento gerou uma reação imediata e contundente de associações do setor e de frigoríficos brasileiros, que não apenas refutaram as declarações do executivo, mas também retaliaram com a suspensão do fornecimento de carne à rede varejista. A situação ensejou um pronunciamento oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que se posicionou a favor da defesa do setor produtivo nacional.

Especialistas do setor, contudo, alertam que o ciclo de vida dos produtos nas prateleiras de supermercados é, de modo geral, de curta duração, o que implica que, em um futuro próximo, poderá ser perceptível o impacto da decisão dos frigoríficos nas gôndolas das lojas, com a potencial escassez da commodity.

Em resposta à crise gerada, o Carrefour Brasil se manifestou nesta segunda-feira, 25 de novembro, reconhecendo que a interrupção do fornecimento de carne de fato afeta seus consumidores. Em comunicado oficial, a companhia se comprometeu a buscar alternativas para restabelecer o abastecimento o mais rapidamente possível, sem comprometer os padrões de qualidade e responsabilidade que a empresa propugna.

“A decisão de suspender o fornecimento de carne afetou diretamente os nossos clientes, especialmente aqueles que depositam sua confiança em nós para fornecer produtos de qualidade e com a responsabilidade que nos caracteriza”, declarou o Carrefour Brasil, reforçando seu compromisso com seus mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o país.

O comunicado enfatizou, por fim, que, apesar da interrupção temporária, “não há escassez de carne nas lojas até o presente momento”.

 

Compreenda a Retaliação dos Frigoríficos e a Decisão do Carrefour

Na quinta-feira, 21 de novembro, a JBS, um dos maiores frigoríficos brasileiros, anunciou a interrupção do fornecimento de carne ao Carrefour em resposta às declarações do CEO do conglomerado francês, Alexandre Bompard, feitas no dia anterior. A Friboi, marca do grupo JBS, é responsável por aproximadamente 80% das carnes comercializadas nas unidades da rede varejista no Brasil.

Além da JBS, na sexta-feira (20), a Masterboi também suspendeu o envio de 250 toneladas de carne ao Carrefour, elevando a tensão no setor. Embora o Carrefour afirme que, até o momento, não há repercussões visíveis da interrupção, especialistas do setor, como Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, advertem que os efeitos dessa ruptura serão rapidamente evidentes.

“A reposição da carne in natura, que é a mais comercializada, é feita diariamente. Muito provavelmente, as unidades do Carrefour começarão a enfrentar escassez de carne em breve”, explica Tozzi. Ela destaca que, com o passar dos dias, a falta de proteínas nas prateleiras das lojas se tornará ainda mais pronunciada, mesmo que o Carrefour busque fornecedores alternativos para suprir a demanda com lotes emergenciais.

Embora o Carrefour Brasil tenha tentado se desvincular das declarações de Bompard, cabe ressaltar que a matriz francesa detém mais de 60% das ações do grupo, o que confere a ela um controle significativo sobre as decisões corporativas. Em nota oficial, o Carrefour reiterou que “[A declaração] se aplica apenas às lojas na França. […] Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”

 

Compreenda a Decisão do Carrefour

Na quarta-feira, 20 de novembro, o CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, divulgou uma publicação em sua conta no X (antigo Twitter), anunciando que a varejista francesa deixaria de comercializar carne proveniente da América Latina em resposta à “consternação e indignação” dos agricultores franceses em relação ao tratado entre o Mercosul e a União Europeia.

A declaração de Bompard, portanto, configurou-se como um ato de solidariedade aos produtores agrícolas da França, que, desde a semana passada, têm protestado contra o acordo comercial, especialmente devido à concorrência estrangeira que impactou a crise agrícola no início deste ano. O ponto central da crítica reside no fato de que os produtores do Mercosul não estariam obrigados a seguir as mesmas normas, em especial as ambientais, oferecendo uma vantagem competitiva considerada injusta pelos agricultores europeus.

Especialistas no setor veem a posição de Bompard como um reflexo do crescente protecionismo na França, impulsionado pelo debate acerca do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além das rigorosas políticas de combate ao desmatamento do bloco europeu.

Na sua publicação, Bompard expressou sua esperança de que sua postura inspirasse outras empresas do setor agroalimentar a adotar medidas semelhantes. “Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e dar impulso a um movimento de solidariedade mais amplo. É por meio do bloqueio que podemos tranquilizar os criadores franceses de que não haverá evasão possível. No Carrefour, estamos prontos para isso, independentemente dos preços e quantidades de carne que o Mercosul nos proponha”, destacou o CEO.

Por sua vez, o Carrefour Brasil, em nota divulgada na última segunda-feira, 25 de novembro, reconheceu que a suspensão do fornecimento de carne afetaria seus consumidores no país, mas reafirmou que está trabalhando para mitigar os impactos dessa polêmica no abastecimento de suas lojas.

“Lamentavelmente, a decisão de suspender o fornecimento de carne impacta diretamente nossos clientes, sobretudo aqueles que depositam sua confiança em nós para abastecer seus lares com produtos de qualidade e responsabilidade”, declarou o Carrefour Brasil em comunicado oficial.

A empresa frisou que está empenhada na busca por “soluções que possibilitem a retomada do abastecimento de carne em nossas lojas com a maior celeridade possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com os milhões de clientes em todo o Brasil.”

Além disso, o Carrefour Brasil enfatizou que “não há escassez de carne nas lojas até o momento.”

 

Compreenda os Posicionamentos do Ministério da Agricultura e das Associações do Setor

Desde a controversa declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, diversas entidades brasileiras se manifestaram contrárias às suas palavras, que questionaram a qualidade da carne proveniente do Mercosul. Autoridades, como o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, defenderam publicamente um boicote à marca, em resposta ao pronunciamento de Bompard.

Fávaro chegou a solicitar aos frigoríficos que tomassem uma atitude firme diante da situação, alinhando-se à postura de retaliação do setor.

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), repudiou de forma contundente a declaração do executivo francês, alegando que ela compromete a imagem do Brasil no cenário internacional. “Essa afirmação é uma falácia. O histórico comercial com a União Europeia demonstra que as exigências de qualidade do bloco sempre foram atendidas. O que não pode ser ignorado é o fato de que um CEO de uma grande empresa faça tal declaração, ciente do impacto que ela pode causar junto à população e aos demais países sobre a qualidade da carne brasileira”, afirmou Santin.

Em mais um gesto de repúdio, na segunda-feira, 25 de novembro, 44 associações ligadas ao setor publicaram uma carta aberta em resposta às falas de Bompard, abordando as carnes produzidas no Mercosul.

“Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional”, dizia o documento, reiterando a defesa da qualidade da carne brasileira e repudiando qualquer tentativa de desinformação.

 

Compreenda o Impacto da Declaração do Carrefour nas Exportações Brasileiras

Para os especialistas, a declaração do CEO do Carrefour reflete um movimento protecionista crescente na França, alimentado pelo debate em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além das rigorosas políticas ambientais do bloco, como a lei antidesmatamento.

Contudo, quando analisado sob a ótica das exportações brasileiras, o impacto direto parece ser mínimo. Segundo dados do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, em 2023, os portos brasileiros movimentaram US$ 22 bilhões em carne bovina, suína e de aves. No entanto, apenas US$ 678 mil, o equivalente a 0,04% do total, foram destinados à França.

Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro, aponta que a suspensão das exportações para a França teria um impacto quase nulo na balança comercial brasileira. “O mercado de exportação brasileiro está extremamente aquecido no momento, devido à alta demanda mundial por produtos bovinos, suínos e aviários, uma demanda que apenas o Brasil tem a capacidade de atender”, afirma Serigatti, destacando que a diversificação dos mercados compradores atenua eventuais perdas.

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