Demência pugilística: Compreenda a condição que acometeu Maguila
O exímio boxeador José Adilson Maguila faleceu aos 66 anos nesta quinta-feira (24), conforme confirmado pelo Instituto Maguila. Anos atrás, o lutador recebeu o diagnóstico de encefalopatia traumática crônica (ETC), comumente designada como demência pugilística, a qual teria sido induzida por sua atuação no boxe, marcada por repetidas contusões cranianas.
A encefalopatia traumática crônica representa uma degeneração progressiva das células cerebrais, ocasionada por múltiplas lesões na região craniana. Este quadro clínico é frequentemente observado em atletas, principalmente em lutadores e jogadores de futebol, mas também pode afetar soldados expostos a explosões, conforme elucidado pelo Manual MSD, uma respeitável referência médica publicada pela Merck & Co.
De acordo com o neurologista Marcel Simis, do Hospital Albert Einstein, ao longo da trajetória profissional do boxeador, ocorrem microtraumas acumulativos no cérebro, resultantes dos impactos sucessivos. Esses microtraumas provocam alterações cerebrais que geram processos inflamatórios, culminando em uma condição neurodegenerativa.
Ademais, o processo neurodegenerativo é progressivo e seus sintomas geralmente se manifestam tardiamente, após um período de 10 a 15 anos desde os traumas iniciais. “É uma evolução que tende a se agravar ao longo do tempo”, acrescenta o especialista.
Tratamento e Prevenção: Abordagens para a Demência Pugilística
No que tange à demência pugilística, é imperativo ressaltar que não há um tratamento específico que possa ser considerado definitivo. O neurologista Marcel Simis esclarece que, em algumas situações, é viável realizar o manejo dos sintomas. “É possível prescrever antidepressivos para pacientes que apresentam quadros de depressão, por exemplo. Para lidar com manifestações como agressividade, impulsividade e perda de inibição, também existem fármacos direcionados a esses sintomas”, afirma o especialista.
Adicionalmente, em certos casos, podem ser utilizados medicamentos que são tradicionalmente empregados no tratamento da doença de Alzheimer.
Com relação à prevenção da demência pugilística, Simis enfatiza que a principal estratégia consiste na minimização dos traumas cranianos. “Nos Estados Unidos, foram implementadas alterações nas regras do futebol americano com o intuito de evitar lesões cranianas, dadas as complicações observadas entre os jogadores”, exemplifica.
“Essa discussão se estende a outras modalidades esportivas, incluindo o futebol, considerado um fator de risco devido à prática do cabeceio da bola”, complementa. Assim, evitar a participação em esportes que impliquem riscos de lesões cranianas representa a estratégia de prevenção mais eficaz. Quando tais práticas não podem ser evitadas, é fundamental reconhecer que não há tratamento profilático disponível, nem maneira de reverter as lesões já estabelecidas. A conscientização e a prevenção emergem, assim, como os melhores caminhos a serem trilhados.