O Renascimento de uma Árvore Milenar: Descoberta de uma Espécie Medicinal Perdida na Judeia
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O Renascimento de uma Árvore Milenar: Descoberta de uma Espécie Medicinal Perdida na Judeia

Uma espécie de árvore, há muito considerada extinta, foi recentemente cultivada a partir de uma semente milenar, descoberta em uma caverna no deserto da Judeia, no início da década de 1980. Este feito notável foi alcançado por botânicos que, por meio de rigorosos processos científicos, trouxeram de volta à vida um espécime que se acreditava perdido para a história.

Os pesquisadores envolvidos no projeto sustentam a hipótese de que esta árvore possa ser a fonte original de um bálsamo curativo citado em textos sagrados, incluindo a Bíblia, e outros escritos da Antiguidade. Este bálsamo, amplamente valorizado por suas propriedades medicinais, estaria associado à lendária “Bálsamo da Judeia”, cujas resinas eram outrora comercializadas para diversas partes do mundo.

A semente, extraordinariamente preservada, foi exumada durante escavações arqueológicas na região de Wadi el-Makkuk, ao norte de Jerusalém. Após meticulosas análises, ainda que a identificação da árvore permanecesse incerta, a equipe de pesquisadores, liderada pela ilustre Dra. Sarah Sallon, plantou a semente com o intuito de desvendar os mistérios que a circundavam. Sallon, fundadora do prestigiado Centro de Pesquisas em Medicina Natural Louis L. Borick, no Hadassah University Medical Center, conduziu esse experimento ao longo de mais de uma década, na busca de respostas definitivas acerca da espécie e seu legado histórico.

A Dra. Sallon aventou a possibilidade de que a árvore fosse a fonte do antigo e prestigiado “tsori” bíblico, uma substância vegetal medicinal associada à histórica região de Gileade, situada ao norte do Mar Morto, no Vale do Rift do Jordão. Esta área, outrora uma vasta e fértil zona montanhosa e florestal, intensamente cultivada e afamada por sua riqueza natural, hoje integra o território da Jordânia.

As revelações da equipe de cientistas, detalhadas em um estudo publicado na conceituada revista Communications Biology em 10 de setembro, desvelam alguns dos segredos até então impenetráveis sobre as origens desse espécime enigmático, batizado por Sallon de “Sheba”. As descobertas não apenas jogam luz sobre um possível elo com o passado bíblico, mas também abrem novas perspectivas sobre o patrimônio botânico da região.

Para viabilizar a germinação da árvore, a Dra. Elaine Solowey, coautora do estudo e pesquisadora emérita do Centro de Agricultura Sustentável do Instituto Arava de Estudos Ambientais em Israel, empregou um processo aprimorado durante investigações anteriores sobre sementes de tamareira de 2.000 anos.

Esse método envolveu a imersão da semente ancestral do deserto da Judeia em uma solução de água, enriquecida com hormônios e fertilizantes, antes de ser cuidadosamente plantada em um recipiente contendo solo estéril.

“Cerca de cinco semanas e meia após o plantio, emergiu um esplêndido broto”, afirmou Sallon, evidenciando a eficácia do protocolo aplicado.

 

A árvore, que os autores do estudo acreditam poder ter uma conexão bíblica, é vista aos 12 anos de idade • Guy Eisner

 

Protegendo a extremidade do broto, havia uma característica semelhante a uma cobertura chamada opérculo. Assim que essa estrutura caiu, a equipe utilizou a datação por radiocarbono na matéria orgânica presente para estimar a idade da planta, constatando que o espécime remonta a um período entre 993 e 1202 d.C.

Pouco tempo depois, a árvore começou a produzir folhas. Sallon compartilhou imagens da planta e de sua folhagem com botânicos ao redor do mundo, e um especialista sugeriu que ela pertencia ao gênero Commiphora, que abrange aproximadamente 200 espécies de árvores, predominantemente encontradas na África, Madagascar e na Península Arábica.

Subsequentemente, Sallon enviou uma amostra da folha para a Dra. Andrea Weeks, coautora do estudo e professora associada do Departamento de Biologia da George Mason University, em Fairfax, Virgínia. Weeks sequenciou o DNA da árvore, confirmando a identificação preliminar. No entanto, a amostra não correspondia a nenhuma das espécies conhecidas de Commiphor  catalogadas em seu banco de dados.

Com uma impressão genética singular, a espécie desconhecida de Commiphora provavelmente representa um táxon extinto que outrora habitou a região circundante ao Deserto da Judeia, conforme afirmado no estudo. Contudo, apesar de a árvore ter alcançado mais de 14 anos de idade e quase 3 metros de altura, ela não floresceu nem produziu frutos. Sem essas características mais identificáveis, a plena identificação das espécies crípticas permanece indeterminada, conforme adicionado pela pesquisa.

Com base em investigações históricas, Sallon formulou a hipótese de que a árvore poderia ser a fonte do que os textos antigos da região, incluindo a Bíblia, descrevem como “bálsamo da Judeia” ou “bálsamo de Gileade” — uma resina aromática colhida para a produção de um perfume altamente cobiçado, amplamente comercializado na época.

“Nós o plantamos em 2010, e agora, em 2024, por que levamos tanto tempo para publicar a pesquisa? Porque eu queria ter certeza de que se tratava ou não do Bálsamo da Judeia. E como eu poderia saber isso com precisão? Através do seu aroma”, explicou Sallon.

Entretanto, a árvore, que é parente da mirra, famosa por sua resina perfumada, nunca exalou qualquer tipo de fragrância. Quando a planta atingiu a maturidade, por volta dos três anos de idade, a equipe realizou uma análise fitoquímica de sua resina, folhas e ramos, em busca de compostos aromáticos semelhantes aos encontrados na mirra. Contudo, nenhuma substância do tipo foi detectada, segundo Sallon.

Em contrapartida, a equipe identificou alguns compostos reconhecidos por suas propriedades medicinais, incluindo os “guggulterols”, que foram isolados a partir da resina da espécie de árvore relacionada Commiphora wightii, reconhecida por suas potenciais propriedades anticancerígenas, conforme destacado no estudo.

“Considerando todas essas evidências, não se trata do Bálsamo da Judeia, mas sim de um parente próximo e de uma espécie de Commiphora não aromática, que se revela um verdadeiro tesouro de compostos medicinais”, afirmou Sallon.

Devido à presença desses compostos terapêuticos, Sallon e seus colegas inferiram que a árvore poderia ser a origem de um bálsamo medicinal conhecido como tsori, também mencionado em documentos históricos.

A Dra. Louise Colville, líder sênior em pesquisa sobre biologia de sementes e estresse no Royal Botanic Gardens, Kew, em Londres — que não participou da pesquisa — afirmou que sementes com uma longevidade tão extraordinária são extremamente raras.

“O que é verdadeiramente surpreendente nesta narrativa é que se tratava de uma única semente; a oportunidade de ela germinar é uma sorte excepcional”, observou Colville.

“Trabalhando em um banco de sementes, a possibilidade de uma longevidade tão extrema nos proporciona esperança de que, ao armazenar sementes, ao menos algumas delas conseguirão sobreviver por períodos prolongados”, acrescentou.

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