Por que os homens não refletem sobre o câncer de mama?
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Por que os homens não refletem sobre o câncer de mama?

O Dr. Jamin Brahmbhatt, um urologista e cirurgião robótico vinculado ao Orlando Health, além de ex-presidente da Sociedade Urológica da Flórida, relata uma experiência reveladora que ilustra essa questão.

 

Anos atrás, um paciente masculino apresentou-se à minha consulta queixando-se de um aumento nas mamas. Inicialmente, atribuímos esse fenômeno a um possível efeito colateral de um de seus medicamentos. Contudo, durante o exame físico, percebi que certos aspectos não se apresentavam de acordo com o esperado.

Diante da inquietação, optei por solicitar uma mamografia para uma investigação mais aprofundada. Os resultados revelaram uma anomalia significativa, que culminou na necessidade de encaminhá-lo a um especialista. O diagnóstico que se seguiu? Câncer de mama.

A natureza excepcionalmente rara do câncer de mama em homens muitas vezes resulta em diagnósticos equivocados ou na completa omissão do problema. A detecção precoce, em tais circunstâncias, é vital e pode ser determinante para a preservação da vida.

 

A realidade do câncer de mama nos homens

Quando se evoca a temática do câncer de mama, a maioria das pessoas associa essa condição à cor “rosa” e à figura feminina. Entretanto, é imperativo ressaltar que os homens também estão suscetíveis a desenvolver esta enfermidade.

Os homens constituem aproximadamente 1% de todos os casos de câncer de mama, o que traduz a alarmante estatística de que 1 em cada 726 homens será diagnosticado ao longo de sua vida. Embora a ocorrência seja rara, não se pode subestimar o fato de que um número significativo de homens enfrenta a batalha contra o câncer de mama.

Um dos desafios preponderantes associados ao câncer de mama masculino reside no fato de que ele frequentemente passa despercebido. Muitos homens não estão cientes de que podem ser acometidos por essa patologia, e a inexistência de diretrizes de triagem de rotina, comparáveis às estabelecidas para o público feminino, agrava essa situação.

De fato, mais de 40% dos diagnósticos de câncer de mama masculino ocorrem em estágios avançados (estágio 3 ou 4). Como consequência, os homens frequentemente recebem tratamentos mais agressivos em comparação às mulheres, um reflexo do atraso no diagnóstico.

Os sinais de alerta podem ser sutis — como nódulos, secreção nos mamilos, alterações na pele ou inchaço na região mamária. Caso se perceba qualquer alteração nos seios masculinos, é crucial não negligenciar esses indícios. A busca por uma avaliação médica é sempre a melhor opção.

 

O papel da genética no câncer de mama masculino

As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, tradicionalmente associadas ao câncer de mama e de ovário no sexo feminino, podem igualmente elevar o risco de câncer de mama nos homens.

Estudos revelam que entre 0,2% e 1,2% dos homens portadores de uma alteração mutada no gene BRCA1 e de 1,8% a 7,1% daqueles com uma mutação no BRCA2 desenvolverão câncer de mama até os 70 anos. Em contraste, a prevalência da doença na população masculina em geral é de aproximadamente 0,1% na mesma faixa etária.

Os homens que apresentam mutações no gene BRCA2 possuem um risco de 7% a 8% de desenvolver câncer de mama ao longo de suas vidas, um índice consideravelmente superior ao observado na população masculina como um todo.

Assim, é imperativo que homens com histórico familiar de câncer de mama, particularmente aqueles portadores de mutações nos genes BRCA, considerem a realização de testes genéticos. Ademais, devem ser especialmente atentos a quaisquer alterações no tecido mamário, adotando uma postura proativa em relação à saúde e ao monitoramento preventivo.

 

A ligação entre BRCA e câncer de próstata

As mutações nos genes BRCA, reconhecidas por aumentar o risco de câncer de mama, também se mostram significativas no que tange ao câncer de próstata nos homens.

Recentemente, um paciente jovem apresentou-se em meu consultório com uma preocupação que muitos não associariam à sua idade: o câncer de próstata. Sua mãe e irmã haviam sido diagnosticadas com câncer de mama, e, apesar de estar na faixa dos 40 anos, ele requisitou testes genéticos para avaliar a presença de mutações nos genes BRCA, além de solicitar um exame de sangue para a detecção do antígeno prostático específico (PSA).

Enquanto aguardávamos os resultados do teste genético, o exame de PSA revelou níveis elevados, superando as expectativas. Nesse momento, a relevância do teste genético tornou-se secundária, dado que ele foi submetido a uma biópsia, cuja análise confirmou a presença de câncer de próstata em estágio inicial.

Dessa forma, é imprescindível que indivíduos com histórico familiar de câncer de mama compreendam que não são apenas as mulheres da família que devem estar atentas. Os homens também devem ser incluídos nessa discussão, adotando uma abordagem proativa em relação à sua saúde e à realização de exames preventivos.

 

Comparando o câncer de mama masculino e feminino

Os cânceres de mama masculino e feminino apresentam tanto semelhanças quanto distinções significativas que merecem ser analisadas.

Devido à menor quantidade de tecido mamário nos homens, o câncer costuma estar mais próximo da parede torácica, o que pode influenciar a sua propagação. Essa característica anatômica pode afetar a forma como a doença avança e se dissemina pelo organismo.

A taxa de sobrevivência em cinco anos para homens diagnosticados com câncer de mama é de aproximadamente 77,6%, em contraste com 86,4% para mulheres. Essa diferença pode ser atribuída, em parte, ao fato de que os diagnósticos em homens costumam ocorrer em estágios mais avançados. Contudo, os tratamentos disponíveis — que incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia — são, em sua essência, os mesmos para ambos os sexos.

A discrepância mais relevante, entretanto, reside na conscientização sobre a doença. Enquanto campanhas robustas têm promovido a conscientização sobre o câncer de mama entre as mulheres, os homens frequentemente permanecem à margem dessa discussão vital. É imperativo que essa realidade se altere, assegurando que homens também sejam integrados ao diálogo sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

 

Examinando os seios masculinos

Embora não existam diretrizes oficiais para a realização de autoexames de mama em homens, é possível adotar práticas proativas que visam monitorar a saúde mamária por meio de técnicas sugeridas para autoexame. Recomenda-se que esses exames sejam realizados em um horário fixo a cada mês — por exemplo, no mesmo momento em que se efetua o exame testicular mensal.

Inicie o procedimento ficando em pé, despido da parte superior do corpo, diante de um espelho, a fim de inspecionar a região por quaisquer anomalias, como inchaços, nódulos, covinhas ou alterações nos mamilos, tanto com os braços ao lado do corpo quanto levantados acima da cabeça.

Para o exame manual, deite-se com um travesseiro sob o ombro e o braço do lado a ser examinado posicionado atrás da cabeça. Utilize a mão oposta para pressionar suavemente os dedos em pequenos círculos sobre toda a área do peito e axila, aplicando diferentes níveis de pressão, além de apertar delicadamente o mamilo para verificar se há secreção.

Caso identifique quaisquer alterações ou irregularidades, é fundamental consultar um médico. Vale ressaltar que essas etapas do autoexame são sugestões destinadas a auxiliar os homens na identificação precoce de problemas, uma vez que essa detecção pode ser crucial, especialmente para aqueles com maior risco, seja por histórico familiar ou fatores genéticos, como as mutações nos genes BRCA.

 

Do caroço para as próximas etapas

Caso uma anormalidade seja detectada durante o autoexame, as etapas subsequentes geralmente incluem a realização de uma mamografia ou ultrassonografia para uma avaliação mais detalhada do nódulo identificado. Se as imagens obtidas sugerirem alguma anomalia suspeita, será indicada a realização de uma biópsia.

Durante o procedimento de biópsia, uma amostra do tecido mamário é analisada sob um microscópio, com o objetivo de determinar se a lesão é benigna ou maligna. Com base nos resultados obtidos da biópsia, o médico terá a possibilidade de discutir as opções de tratamento adequadas, que podem englobar cirurgia, radioterapia ou outras modalidades terapêuticas, dependendo do estágio e do tipo de câncer identificado tanto na biópsia quanto na imagem de estadiamento.

Vale ressaltar que todos esses tratamentos são equivalentes àqueles oferecidos às mulheres diagnosticadas com câncer de mama, evidenciando a necessidade de uma abordagem abrangente e equitativa em relação à saúde mamária, independentemente do gênero.

 

Quebrando barreiras mentais e de gênero

Um estigma lamentável permeia a experiência dos homens diagnosticados com câncer de mama. Muitos se sentem envergonhados ou chocados ao receber essa notícia, o que frequentemente resulta em hesitações em buscar ajuda precoce. Contudo, é fundamental reconhecer que o câncer não faz distinção de gênero, e essa mesma perspectiva deve ser adotada pela sociedade.

A detecção precoce configura-se como a estratégia mais eficaz para enfrentar essa doença, independentemente do gênero. A chave reside na disposição para ser aberto e proativo acerca do tema. Os homens devem se atentar a seus corpos, adotando uma postura vigilante em relação à saúde mamária.

Caso se percebam nódulos, dor, inchaço ou quaisquer alterações na região do peito ou mamas, é imprescindível não ignorar esses sinais e discutir essas preocupações com um médico. Ademais, homens com histórico familiar de câncer de mama ou próstata devem considerar a realização de testes genéticos, buscando um maior entendimento de sua predisposição à doença.

Embora o câncer de mama em homens seja raro, essa condição não deve ser subestimada em sua gravidade. Ao amplificarmos a conscientização durante o Mês de Conscientização sobre o Câncer de Mama, quebrando estigmas e incentivando os homens a dialogar abertamente com seus médicos, contribuímos para a detecção precoce da doença e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida dos homens afetados.

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