Sonolência está intrinsecamente vinculada a condição precursora da demência, revela estudo
A ligação do sono com o declínio cerebral
O estudo apresenta algumas limitações de considerável relevância, conforme apontado pela professora Tara Spires-Jones, especialista em neurodegeneração e diretora do Centro de Ciências Cerebrais da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Spires-Jones, que não participou da pesquisa, observou que “as medições do sono foram baseadas em autorrelatos, e tais relatos podem ser suscetíveis a distorções, especialmente por parte de indivíduos com dificuldades de memória”. A pesquisadora também destacou que o estudo foi composto majoritariamente por participantes de origem branca e que o tamanho da amostra foi significativamente menor em comparação com estudos similares realizados em um único ponto no tempo, o que implica que os resultados só poderão ser considerados robustos se confirmados em investigações subsequentes.
Os autores do estudo reconheceram, igualmente, que, embora o período de acompanhamento, de cerca de três anos, seja superior ao de algumas pesquisas anteriores, o intervalo temporal ainda se apresenta como relativamente breve para alcançar conclusões definitivas sobre as associações observadas.
A síndrome de risco cognitivo motor (SRCM), sendo uma condição recém-identificada, ainda exige considerável aprofundamento por parte dos especialistas, os quais ainda estão em processo de entendimento sobre suas causas e os mecanismos exatos pelos quais afeta o organismo, como pontuou Richard Isaacson, diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida. Esse desafio é agravado pela ausência de “biomarcadores patológicos definitivos” para a SRCM até o momento, o que limita a precisão diagnóstica e a compreensão plena da síndrome.
Entretanto, a principal autora do estudo, Victoire Leroy, sugere que “vários mecanismos podem justificar essa associação entre sono e risco cognitivo motor”. Segundo ela, o sono exerce um papel crucial na “limpeza” das neurotoxinas que se acumulam no cérebro, o que pode ter implicações diretas na saúde cerebral. Além disso, estudos anteriores demonstraram que a privação de sono favorece o acúmulo de proteínas associadas à doença de Alzheimer, o que corrobora a teoria de que o sono desempenha um papel vital na preservação da integridade cognitiva e na prevenção do declínio neurodegenerativo.
Monitorando a saúde do sono no envelhecimento
Os resultados do estudo sublinham a importância crucial do sono para a saúde cognitiva, conforme destacou a professora Victoire Leroy. Este achado reforça a ideia de que o sono não deve ser considerado apenas um período de descanso, mas um fator vital para a preservação da saúde cerebral ao longo do envelhecimento.
Richard Isaacson, diretor do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, recomenda que indivíduos com dificuldades no sono procurem orientação médica, preencham questionários especializados sobre seus padrões de sono e considerem a realização de um estudo do sono, seja no conforto de sua residência ou em ambiente hospitalar. “Atualmente, há uma variedade de tratamentos, tanto medicamentosos quanto não medicamentosos, que podem ser empregados, dependendo do problema identificado. O tratamento adequado dos distúrbios do sono pode trazer benefícios duradouros, contribuindo significativamente para a saúde cerebral e para a prevenção de condições como a demência”, afirmou Isaacson, evidenciando a relevância de intervir precocemente.
Além de tratar distúrbios específicos do sono, existem outras ações preventivas que podem contribuir para a preservação da saúde cerebral no envelhecimento. Tara Spires-Jones enfatizou a importância de um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação balanceada, o controle do peso, a prática regular de atividades físicas e mentais, além do cuidado com a perda auditiva. Estes fatores, segundo ela, podem fortalecer a resiliência cerebral e, consequentemente, reduzir o risco de demência. “É importante frisar que a adoção de um estilo de vida saudável não deve ser vista como uma forma de culpabilizar aqueles que desenvolvem demência, uma vez que menos da metade do risco pode ser atribuído a fatores modificáveis. O restante do risco é provavelmente influenciado por fatores genéticos que não podemos controlar”, acrescentou.
No entanto, ela também mencionou que, apesar das limitações impostas pela genética, o avanço das pesquisas médicas e das opções de tratamento oferece razões para otimismo. Com o aumento da compreensão sobre as doenças neurodegenerativas e o aprimoramento das terapias disponíveis, há motivos para acreditar que a modificação do risco de demência é possível, mesmo que não seja uma solução definitiva para todos.
Por fim, Isaacson destacou a importância de tomar medidas para prevenir quedas, especialmente para aqueles que já enfrentam problemas de mobilidade. A avaliação de terapias físicas e ocupacionais, juntamente com adaptações simples no ambiente doméstico, como a instalação de barras de apoio no chuveiro, a remoção de obstáculos e o uso de luzes noturnas, pode fazer uma grande diferença na segurança e bem-estar dos idosos.