Subespécie de bactéria bucal pode estar associada ao câncer colorretal
Potencial vacina contra o câncer?
A descoberta em questão propicia um impacto significativo ao viabilizar novas investigações sobre essa sublinhagem. “A comparação dos genomas dessas subespécies e cepas que conseguem atingir os tumores, em contraposição àquelas que não o fazem, poderá nos auxiliar na elucidação da base genética da colonização tumoral”, observa Johnston em entrevista à Agência Einstein.
Ademais, a identificação da linhagem bacteriana específica presente no câncer colorretal abre novas perspectivas para o rastreamento de populações com maior propensão a abrigar esses microrganismos. “Com investigações complementares, talvez esse conhecimento possa ser utilizado na concepção de kits de triagem minimamente invasivos, visando detectar precocemente cânceres colorretais e até mesmo influenciar a escolha dos tratamentos para pacientes portadores de tumores com essas bactérias. Embora ainda esteja distante, essa é uma diretriz que estamos perseguindo”, ressalta Johnston.
Mais do que isso, as implicações podem ser tanto preventivas quanto terapêuticas. “Compreender as linhagens específicas de *Fusobacterium nucleatum* realmente associadas ao câncer colorretal é essencial, visto que não todas as cepas de *Fusobacterium nucleatum* apresentam o mesmo potencial carcinogênico”, enfatiza o pesquisador. “Tomemos como exemplo a associação do HPV [papilomavírus humano] com o câncer cervical; tal entendimento foi fundamental para o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra as linhagens específicas mais perigosas.”
Todo mundo tem essa bactéria?
A cavidade oral abriga aproximadamente 700 espécies bacterianas distintas, sendo *Fusobacterium nucleatum* uma das mais prevalentes, encontrando-se tanto no biofilme (placas bacterianas que se formam ao redor dos dentes) quanto na saliva. “A frequência dessa bactéria aumenta com o acúmulo de biofilme, o que pode resultar em gengivite, uma condição bucal comum na maioria da população, que, se não tratada, pode evoluir para periodontite”, alerta Nidia Castro dos Santos, doutora em periodontia e professora no curso de Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
Para a especialista, a relevância da descoberta deste novo estudo é significativa, pois poderá transformar a FnaC2 em um potencial marcador para tumores colorretais, viabilizando o desenvolvimento de exames diagnósticos e avaliações de risco a partir de amostras orais. “Pesquisas futuras também poderão concentrar-se na criação de fármacos que tenham a FnaC2 como alvo terapêutico”, complementa.
Santos ressalta ainda que investigações adicionais devem examinar se a presença dessa bactéria na cavidade bucal eleva o risco de câncer colorretal exclusivamente em indivíduos com doenças gengivais ou também em pessoas com saúde bucal preservada. “Seria pertinente explorar se o tratamento da periodontite poderia auxiliar na prevenção ou tratamento do câncer colorretal, assim como já se demonstrou em pacientes diabéticos, por exemplo”, sugere a professora.